Uruguai para brasileiros – por Rafael de Caneda

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Uruguai para brasileiros – por Rafael de Caneda

Entrevista do Mês: um pouquinho de Uruguai pelos olhos do Rafael, diretor acadêmico do Instituto de Cultura Uruguayo-Brasileño.
Nosso bate-papo de Julho é com o ilustríssimo Rafael de Caneda Lopez, diretor acadêmico do Instituto de Cultura Uruguayo-Brasileiro e professor de português da Universidad ORT.
Conheci o Rafa nas reuniões do Conselho de Cidadãos do Consulado Geral do Brasil em Montevideo e achei muito interessante a proposta do Instituto, de aproximar as culturas dos dois países.
Gremista de coração, o gaúcho de 34 anos se mudou para o Uruguai em 2005, num dia frio e chuvoso. Os detalhes, ele conta a seguir, na nossa entrevista do mês.

Antes de morar em Montevideo, onde você morava? Em que trabalhava?
Morava em Porto Alegre e já era professor de português.

Por que você se mudou para o Uruguai? 
Eu comecei a participar do Programa de Português para Estrangeiros e era importante ter uma experiência fora do Brasil. Aí as professoras da UFRGS Margarete Schlatter e Cleci Bevilacqua me apresentaram a possibilidade de ir a Montevidéu e dar aulas no ICUB (Instituto de Cultura Uruguaio-Brasileiro) durante um tempo (mais ou menos 6 meses). Era minha primeira experiência no exterior e também morando sozinho longe dos meus pais.  Gostei tanto que os 6 meses viraram 11 anos.

O que você mais gosta no Uruguai?
Muitas coisas. Citar somente um aspecto seria injusto. Gosto muito da tranqulidade, é um país muito seguro se compararmos com o padrão atual das capitais do Brasil. No Uruguai eu posso caminhar no centro da cidade sem aquela preocupação com assaltos ou violência. Obviamente temos crimes aqui e é necessário tomar cuidado, mas não dá para comparar com Porto Alegre, por exemplo.
Gosto do povo em geral. Sempre fui tratado com muito respeito e simpatia. Meus melhores amigos são uruguaios. Para mim o fato de ser brasileiro em Montevidéu e no interior do país foi garantia de alegria e acolhimento.
Uruguai para brasileiros – por Rafael de Caneda
Outra coisa fantástica da cidade de Montevidéu são as distâncias. Tudo é perto (sempre pensando no nosso parâmetro brasileiro) e muitas coisas você pode fazer perfeitamente caminhando ou de transporte coletivo. O trânsito é tranquilo e o centro é muito bonito.
Ah, bom ter falado, gosto muito do centro de Montevidéu. Sempre morei no centro e é super recomendável para quem não se incomoda com barulho.

Existe alguma coisa que até hoje você não conseguiu se acostumar?
Muitas…hahaha… o clima, acho que aqui o inverno é muito cruel. Para aqueles gaúchos que estão pensando que Porto Alegre tem um clima parecido já aviso, não, não é. Aqui o inverno dura mais e não temos “dias de descanso”. Muito frio, chuva e vento.
A alimentação também pode ser um fator complicado para um brasileiro. Eu, felizmente, gosto muito de carne e aqui é um paraíso para quem gosta de churrasco. Mas também se come muita massa, muita farinha e doces, por isso para mim foi bem difícil nos primeiros anos. No Brasil temos uma oferta variada de saladas e frutas e aqui é bem diferente, principalmente no inverno.
Finalizando, acho que todo brasileiro no exterior sente um pouco de falta do nosso jeito de resolver os problemas diários. É normal, temos uma maneira muito particular de solucionar os conflitos e de se relacionar com as outras pessoas. Às vezes sinto falta desse “jeitinho brasileiro”.

Qual foi a principal dificuldade que você encontrou chegando em Montevideo?
Como já falei, o clima. Foi difícil. Cheguei no inverno e era tudo muito cinza. As pessoas ficam mais em casa e para quem chega sem muitos contatos é difícil se enturmar. Depois com a chegada da primavera mudei completamente meu espírito em relação à cidade

E teve alguma coisa que te deixou contente e que você não esperava?
A cordialidade e a hospitalidade do povo. Eu tinha muitas turmas em 2005 e os alunos se mobilizaram para me ajudar na adaptação. Me levaram para conhecer a cidade, cozinharam pratos típicos e ajudaram a mobiliar o apartamento que aluguei 4 meses depois de morar numa pensão. Foram espetaculares comigo e muitos alunos da época hoje são meus grandes amigos. Jamais me esquecerei daqueles primeiros 6 meses.

O que é o Instituto de Cultura Uruguayo-Brasileño?
O ICUB é a grande referência que temos aqui no ensino de português e na divulgação da cultura brasileira. O Instituto tem 76 anos de tradição e uma história riquíssima. Estamos no coração da cidade de Montevidéu, em plena Avenida 18 de Julio, em um edifício maravilhoso que é patrimônio cultural da cidade.
Oferecemos cursos de Português para Uruguaios e de Espanhol para Brasileiros. Temos atualmente 4 grupos de espanhol regulares e grupos de intercâmbio. Eu e a Daniela Martinez (diretora administrativa) estamos dando uma atenção especial a estas turmas.
Mais de 60 mil alunos já estudaram no ICUB durante estes anos. Atualmente contamos com 600 alunos por semestre. Pensando no número de habitantes do país, 600 por semestre é espetacular!
Ao longo dos anos o ICUB vem realizando diversos eventos e ações voltadas para a integração da cultura Brasileira e Uruguaia. Estamos sempre buscando formas interessantes de aproximar as culturas dos dois países como fazia o professor Severino Farias (diretor anterior) em sua gestão.

Você nota um aumento do interesse dos uruguaios em estudar português ao longo dos últimos anos?
Sem dúvidas. Cada vez mais o português é uma exigência no mercado de trabalho local. Há muitas empresas brasileiras aqui que exigem de seus funcionários conhecimentos do idioma ou empresas que têm alguma relação comercial com o Brasil.
Percebo também um crescente interesse pelos cursos de pós-graduação oferecidos nas universidades brasileiras. Há muitos uruguaios estudando no Brasil, fazendo mestrado ou doutorado. Antes de ir, eles estudam 4 anos no ICUB e fazem o Celpe-Bras, o exame que possibilita a Certificação de Proficiência em Língua Portuguesa para Estrangeiros. É a prova oficial do MEC brasileiro e o ICUB é o único posto aplicador deste exame no Uruguai.

Você acha que os uruguaios são diferentes dos brasileiros? Em quais aspectos?
Acho que sim. Depende muito também de qual brasileiro estamos falando. Nosso país é enorme e temos uma diversidade grande de características e costumes.
Os uruguaios são mais fechados no primeiro contato, mas depois se revelam fieis amigos.
Acho que o uruguaio não se preocupa tanto com a imagem como a gente. Somos muitos mais vaidosos no Brasil. Também é importante citar que no Uruguai, principalmente em Montevidéu (agora vai minha primeira e única crítica), o atendimento ao cliente em lojas e restaurantes é muito ruim. Um brasileiro sente a diferença no primeiro instante. É algo que precisa mudar urgentemente.

Você pensa em voltar a morar no Brasil?
Não. Construí minha vida pessoal e profissional aqui. Estou muito feliz de ser diretor acadêmico do ICUB. Portanto, hoje, não faz nenhum sentido pensar em voltar.
Tenho saudade da família, de ver o Grêmio na Arena, do churrasco gaúcho…. Mas como Porto Alegre é pertinho, vou pelo menos duas vezes por ano para a casa da minha mãe.
No futuro, com a aposentadoria, eu gostaria de morar com minha família em alguma cidade nordestina para curtir praia e calor. Quem sabe?

Que dicas você daria para quem está pensando em morar no Uruguai?
Estude bem o Uruguai antes de vir. Acredito que com planejamento a experiência pode ser maravilhosa. E não desista no primeiro obstáculo. Mesmo que o quarto da pensão não tenha janelas ou que a cada “asado” te falem do Maracanazo, resista!
Se for professor de português, melhor ainda! Mande o currículo para mim! hahaha ?

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